segunda-feira, 31 de março de 2014

55.

O nome foi mudado para proteger
um inocente.
Ontem ou amanhã não sei nem interessa,
uma mãe com aspecto de mãe,
irmã mas nunca filha nem avó, revistada
e impedida pela bófia do hospital
de entregar uma 'caixa de bombons'.
era um só bombom para seu filho,
revistada e identificada.
E porque terá sido seus governantes corn[pii]?
E mais não digo por aqui,
fico pelo melhor:
na salinha de fumo
demos alto concerto de flauta e guitarra.
E mais não digo porque se calhar
carregam no botão vermelho.
Splash ao som de cadillac calhambeque.


54.

A farsa do hospital
Capangas mais capangas, numa noite
                                       de sexta-feira,
gajas com seringas, onde minha mãe e irmã,
capangas mais dois mil e quarenta e cinco
                        seguranças, choraram,
gajas com seringas, por me terem chibado,
Capangas mais outros seguranças, pais covardes,
gajas com seringas falsas, que pediam socorro.
Bigodaços ruivos de aparência cavaquistona
                                         mais comandos,
irmãos semelhantes a pinheiros com muletas
                                         e doenças,
vizinhos da meta la donna que dizem: inteligente,
gajas com seringas mais cedo ou mais tarde
                             mais dois estagiários,
toda a gente pagará.
Capangas e mais capangas e gajas em fila
                           indiana com seringas falsas
em fila indiana com capangas e seguranças.
Veredicto, ultimato de um de bata verde:
- vais a bem ou a mal?
Fazem o teste do comprimido.
Não o tomo.
Diagnóstico: delírio ou paranóia.
Solução: internamento compulsivo.

Penso numa frase de Coil:
'one day our eggs are going to dance
and very strange birds will appear'
e macacos
e abelhas
e moscas na manteiga...
eu aqui escrevo porque hoje não durmo,
como não posso ter acesso ao telemóvel,
imagino que alguém me ligou:
'either G called or prima V. called,
by default Suzy V called
I know I am a dreamer mas
hoje à noite não durmo.'

53.

Gerónimo
Gerónimo eu
Gerónimo eu vi
Gerónimo eu vi tua
Gerónimo eu vi a tua triste
Gerónimo eu vi tua triste postura
numa fotografia

Pareces tão triste
Pareces tão triste
Desejo que Gerónimo, meu mítico ancestral
Desejo que conseguisses restaurar a tua glória
Gerónimo eu vi-te
Gerónimo eu desejo-te meu giga-avô
Gerónimo estou agora fumando
                      tabaco do arizona
(é o que dizem)
Gerónimo eu amo-te meu tera-avô
Gerónimo obrigado
Obrigado Gerónimo pela tua existência
Os ianquis estão a colapsar
O teu espírito viverá para sempre

Eu sou mau porque me fizeram mal
e agora
vemos o sol aos quadradinhos.
'aiaiaiaiai al peuerto pobre'
Meu pai tem agora medo do filho,
eu tinha dito na bomba a quem quisesse ouvir:
vamos ser todos presos.
Quem ouviu teve medo,
afastou-se fiquei sozinho
e hoje,
quando me obrigam a tomar
mais de quinze comprimidos dia,
perco a ilusão de
'oh queria tanto ser mau em vez de ser maluco...'
e resigno-me, sou apenas um doente
com a mania de que é mau
um doente que joga o teatro da maldade
para assim achar a justificação a sua doença:
o - sou doente porque sou mau
em vez de - sou mau porque sou doente.

sexta-feira, 28 de março de 2014

52.

Olá prima V.,
como deves saber estou dentro
pela quarta vez
Gostava que me viesses ver.
Há dias caí da cama.
Não me recordo bem
contaram enquanto fumávamos.
Tu tratas-me por você,
a tua novela deve ser brasileira,
deves parecer a sónia braga
à procura da caderneta de um senhor.
Andam por aí muitos doppelgangers,
todas querem que eu lhe ponha a mão
na conita
mas só se puderem mandar
e por breves instantes.
Algumas até gretadas dizem:
mata-me mata-me de amor
mas só por breves instantes
aquelas que me rodeiam vêem o goucha
e sofrem de ejaculação feminina e precoce
como se eu estivesse virado para ser
o menino debaixo da saia da socialite
ou devem pensar que sou o santa claus
ou até jesus?!
nem eu na minha psicose associo jesus.
Gostaria que me viesses ver
pois aqui é tudo igual
sabias que a bófia chegou
com um papel cheio de razão
mas com o meu nome mal escrito
logo mandei-os dar uma volta
no fundo da rua quem os chamara
pôs-se a andar de mansinho
também eles se vão embora
as pessoas agora andam cheias de medo
antes só quiseram saber quando
e qual o meu ponto de explosão.
É possível que permaneça aqui por muito tempo
continuam a mentir, andam na boa
e depois o senhor rufino pensa que os americanos
andam atrás dele
vai muito mal a saúde deste país
parece que as ilusão caíram,
era o que restava a este país
eu - sentado numa retrete limpa
e sem cagar porque já não tenho vontade -
estou só a disfarçar
e a escrever este desabafo.
o mundo será demasiado pequeno
o bilhete será só de ida,
a estiva de vladivostok
os hashishin encarcerados jogam dominó
espero que não tenhas dor de cabeça
elas querem ir a marte
de vassoura
enterrada no buraco negro
magma incandescente e ar cheio de smog
porque não sou santo
a culpa também é minha
mas neste momento
não sinto qualquer ligação à minha família
nem ao mundo.
que sa foda

51.

Na quinta dia onze à noite
meu pai tinha chamado o inem
                      para me levar
já durante a tarde
              lhe tinha feito frente
quase disposto a bater
pedira euros a minha mãe
resoluta como nunca a tinha visto
negara-mos e eu
amarfanhara-os de cima do frigorífico
para ir fumá-los
levei a melhor com os enfermeiros
fiquei no anexo.
em contrapartida a minha família mudou-se
saíram com medo e aconselhados
deixaram-me sozinho
por não querer ir para o hospital
tomei posse do castelo do meu pai
lembro de comentar com angústia:
- não me conseguiram levar.
depois desta denúncia e sexta à tarde
minha mãe chega com uma das minhas irmãs
e sentam-se na sala à espera
eu entro, insulto, cuspo, chamo nomes etc
e uma campainha toca:
elas só tinham vindo a casa por
                             esperarem a bófia
não me conseguem levar porque
              o formulário está mal escrito
duas fardas azuis abordam-me à noite
à porta do anexo mostram cartões de identificação
um deles com bigodinho à viseu
o outro parecia irmão do pinheiro
eu abro a porta a fumar um charro
e levam-me sem me deixar fechar a porta
dizem que minha irmã a fecha
a mesma irmã que me seduziu a abri-la para eles
Fui obrigado a ser observado e analisado
                   por duas batas verdes na urgência
sexta dia doze. uma bata usada por um espertalhão
a outra falava espanhol
escrevia o que era relevante ou seja
como não me calava... tudo
o que me pudesse incriminar.
Olá... hoje é dia 14, entrei há três horas
em Vallis, em definitivo.
Venho de um hospital temporário
onde estive duas noites.

quarta-feira, 26 de março de 2014

50.

Tendo a ilusão de ainda
controlar a máquina paranóica,
escrevo esta carta-bomba:

Actualmente escondido nas
catacumbas nado morto algures
numa terra de martas sem culpa
irmão de são jacinto e
vendedor no império cor-de-rosa,
Tu.
Merd[pii] que dá mau nome
ao pai, tu sim sin sing tu
hás-de-vir aqui
um dia virás sim sim virás
jajajá virás aki
aki beijar a ponta
             do meu dedo
beijar a ponta do meu dédalo.

49.

Olá prima V., estou na zona.
Os bro[pii] não pagaram.
Fumo gold leaf,
fui buscar um big cinzeiro
e coloquei-o em cima da mesa.
Minto. Não fumo gold leaf.
Fumo high leaf.
Há dez anos fumava drum.
Comprava ao smuggling joe.
Gostei de te ver ôji di manhã.
Estavas uma bomba.
As tuas filhas são muito bonitas.
A tua família parece aceitar-me.
Estou disponível para ser adoptado.

48.

Carta-bomba
à gerência da companhia
da rua do barão, aqui designados
os patrões
Fumam à custa do pai com pêra
- procurador ou diplomata -
do lado direito de quem desce a rua.
(se calhar antes do incêndio)

Betozinhos morando na avenida central,
daltónicos andando de clio,
mudando o telefone para privado,
fumando quarenta e cinco
com a língua - um tapete de
       hollywood morangos.
E porquê?
Os fundos disponíveis embolsados
                   em despesas correntes:
Scanner, ganza, computas etalné?
Tudo favores de amigalhaço mais iva
e uma lente progressiva sem papa
                           mas come a papa
até ser corrido a bikeiro,
rekambiado para debaixo da ponte
mijandu i fumandu na porta do prediú
hey adipina flomptes paguem lo k devem.

I think I saw a pussy kat trying to stick
some sing sing in yr ass, baby!                                

47.

Carta-bomba
ao papa da paróquia
Se até dia seis
não comprar um santo antoninho
                            com o menino
pela módica quantia de 40 eurinhos
nem que tenha de desobedecer
                                 ao rato
nem que tenha de subtrair
               o vinho da eucaristia
nem que tenha de passar fome...
não se admire se
depois de o relógio enferrujar
o sino deixe de tocar.
E mais não digo por agora.

terça-feira, 25 de março de 2014

46.

Die exhoterical and juvenile
cu-rri-kulum de mr.Cool

@13 - farmácia como ajudante
pagaram-me o lanche.
@16 - serviço de venda de kitchenware
largaram-me os cães.
@17 - ajudante de electricista
deram-me uma lapada.
@17 - serviço de venda de enciclopédias
ganhei um jantar.
@17 - ajudante de reparações electrónicas
a pita lhe.
@18 - serviço de venda de livros
preenchi o primeiro irs.
@quase 19 - num bar
os meus dedos tocaram uma rata molhada
pela primeira vez.

45.

Carta bomba à polícia alimentar
Olá polícia V. (disfarce de prima V.)
Baite fo[pii]er polícia V.

Tu - polícia que andas disfarçado
                                   de ninja.
Tu - que foste enra[pii] pela ditadura
Tu - que foste à guerra e
                          te assustaste -
os pretos que mataste
te sacrificaram galos pretos na infância
a tua mãe - a única que morreu sana -
a tua protecção dos montes de caruma,
colocados pelos brancos de V.,
atacaram no jardim da casa de V..

Tua mãe V. gostou de ti V.
não morreu de desgosto
amou-te como o filho mais frágil
e morreu
quando matas na baía pretos de V.
sacrificaram galos pretos e tu
traumatizado V....

'nas escadas das sereias
à hora do concerto de Buraka
descansei no ano da graça.
'Inda deu tempo para falar sobre
o ajax de carreiros
versus
juventus da triana.'

44.

Olá prima V.!
mais ou menos a sair
                       à tua procura,
procurar ler o jornal
                procurar emprego,
procurar um reforço de
                joanamaria.
Porque sabes prima V.?
Quero-te hoje amanhã
              quem sabe sempre!
Kero-te prima V.
para que me possas consumir
a mim - pobrezito zombie -
the most junkied of society.
(how important I am you understand)
Leste as notícias?
Os fodilhões fizeram a rusga
                    contra os pobres,
encontraram nada.

Be-my-heart, love

segunda-feira, 24 de março de 2014

43.

O país é
um perverso viajando na bagagem
da deusa do deserto.
O país é
um psicótico escrevendo
de cornos invertidos.
O país é
uma neurótica sentindo
a falta do paisinho.
O país é
um compêndio de doenças
pré-escritas.

O país é um filme gore:
Deseja a dominação do tirano
desde que retire vantagens
e possa atirar as culpas
para cima de nós - o chibo
       deus expiatório.

Sim! o nosso desejo
a nossa máquina a nossa bomba:
Somos a morte do capitalismo
Somos eu tu vós eles também
Somos sãos.
(suspiro eterno)
O país somos
todos nós - o limite.
O país vive
a realidade no 'cu-do-coelho'
com a alice fotografando
os axiomas atrozes de seu cavaco
                       de cisco no olho.
Luso Congo? Viva o Bonga!

42.

Cria o teu próprio mito,
a meu irmão Lupus
[é claro que aqui protejo
       minha irmã de sangue]

Irmão meu
Irmão meu em espírito
Irmão meu que os meus pais nunca me deram
Irmão meu
Irmão meu irmãozinho
Ouve-me
Ouve-me bem meu irmão
                     meu grande irmão
Ouve-me meu irmão
Não ouças o pequeno irmão
Ouve sim meu irmãozinho Tu o grande irmão
Ouve-me meu irmão - pinta
Pinta meu irmão
Pinta e Pina meu irmão
Pinta meu irmão e cria meu irmão
Cria meu irmão e pinta o teu mito
Meu irmão pinta ou pina meu irmão
A irmã que te não deram teus pais.
Meu irmão - meus pais não me deram irmãos
Meu irmão - teus pais não te deram irmãs.
Irmão - devemos encontrar
            a tua irmã que ainda não existe
            o irmão que ainda não criei.
Querido irmão cria a tua obra, a tua prima
Querida prima cria o teu mano.
Mano pinta ou pina a irmã que crias ou querias na tela.

41.

Imaginei-te com a mãe natal
as duas comigo - nós os três.
Numa cama seria a fractura.
A factura: a polaridade mental
                      em perigo.
Chama-lhe mentira:
Construí-te poemas, sonhei contigo.
Olha que a mãe natal compreendeu.

O que és na realidade?
Os pormenores que penso verdadeiros:
Uma leoa na cama,
Nem sequer uma loba agora?
Faço dois cigarros de enrolar
sentado numa paragem de autocarro
e ofereço-lhe um à grande deusa
- aquela que nunca sairá
do resíduo no meu coração de gelo
ao qual dou calor.

'Muito calor a luas da sua qualidade e
a esta linda muchacha maia...
let her decante in me o resíduo que d'Ela ainda resta...'

Sólida como um tango, fandango
                                    whatever
é linda e eu...
que estou só para todo o sempre
o meu coração com um compartimento
para a nova que há-de-vir.

Está codificada a verdade
Todos estão ao corrente.
Que resta de ti em mim?
Já pouco preciso de ti.
Precisava de ti
                    há uma semana atrás.

40.

Olá! Repara no ar de breu
As nuvens enchem o céu
Muito ar, frio muito frio
Fria a noite, os dias frios são.

O sol morre - a razão:
Tu - esfinge iluminada
                    pelo cogumelo,
pelo escaravelho
                e pela joaninha -
Aparece antes k seja tarde.

Há anos que espero
e tu com a barragem no rio
                                platão
                aos sessenta não!
Assim jaz o esperma no caixão.

quinta-feira, 20 de março de 2014

39.

Trend forecaster
pelos vistos tudo é uma questão
                     de estilo.
Fazemos com estilo
Somos os maiores
Vistoriamos todos os clios
                     que desaparecem
Policiamos na interzonamente
Na bolha em espiral
- o ninho de alguém que já não existe
O testemunho foi castrado ô rôbado
                (não é gralha com robalo)
Foi transfixado ô transmigrado
A alma não morreu
A alma existe em memória
A alma ata-me os pés
Põe-me a alma em bicos de pés
Desenha olhos em estilo policial
Põe barrigudos polícias a fumar
Nosso charuto xarutito xarutitando
                                       enquanto
Morrem chilenos neste país
                          que não é o seu céu
Em fogos de ar poluído
       a quem deram a vida e o corpo seu.

38.

A nova
pide armada em
ninja de cara escondida
e com uma shotgun encravada
                                       eheh

37.

Caríssima:
lamento ter de responder ao pedido
                    de documentos novos
                    de provas identificatórias.

Entreguei previamente a pedido de
um funcionário destacado por VªExa
para que vossa excelência faça os camelos
                           de uma bossa
              cumprirem com os pressupostos.

Se os documentos não estão na vossa posse
terão sido extraviados por funcionários
                                          de VªExa
talvez menos zelosos
mas camelos de obediência na mesma.

Considero portanto que se
                                         em consciência
não tenha de enviar tais documentos
                   extraviados por mãos omissas
reenvio toda a documentação exigida.
Obrigado

36.

café corin num rima con
pequim denxiaopin polpotin marine le pin
lenin estalin trotskin idi amin pin
hitlerin reaganin bushin obamin pin
merkelin barrosin cavaquin coelhin pin

pin pam pão pum mata pum

café corin rima con
mayakovskyn akhmatovin kropotkin e bakunin

nu café corin u futuru num foi onte

quarta-feira, 19 de março de 2014

35.

Estou com um cigarro na
                   mão esquerda
e penso nela,
                  na princesa de ra.
Estou com uma caneta na
                   mão direita
e penso nela,
                  na cigana de shiva.

ZhanXiPin de fato de trabalho
Azul como a cor da bandeira
(cozida à mão ah artesão!)
Um avião passa.
A bandeira com as cores de
ZhanXiPin,
                  há muito tempo
Transmutada em princesa de
                          baquelite...
Caiu da janela...
O gato levou-a ao vento.
O milho deu pombas às pessoas.

A guerra acabar - eis
                        a minha utopia.

34.

Carreiros com fome
Imediatismo ou coisa-isma doom
Criando ourobouros metal ooorrrg
Eternidade retornando
                        escatologicamente

Pinando pintar pintando pinar?
                                     Hongos...
Depois pinar primeiro pintar?
                                     Wolves...
Depois pintar primeiro pinar?
                                      Gratinhas...
Roubar um beijo?
                       Isso sim vulva súcuba!
Ainda válido?
                       Chouriço sem cabeça!
Uma década valerá um número-porta?
Um cd, uma mãe, a shrine?
              Sucking up my soul yr soul...
              In a lair to feed the moon..
My dream of a moon as I bite yr breast?
My mother's milk would I like?
I would like to take a nap in your pot belly
but little jazz bop in yr mouth?

Tu poderias queres que eu
                      te oferecesse uma lolipop...
Seria mais um segredo policial mente
                                   mente poetisa.
A Amy poderá morrer aos 27
e ela teve um relapso dias depois.
[e ela infelizmente morreu mesmo aos 27]

As abelhas andam por perto
quando ponho Beequeen no leitor de cd.  

33.

Meia noite nas esquinas e
Um pacote no verão
Estavam as pinhas à pina
Encastradas no varão

tantan tantan tantan
tintin tintin
tão tão tão
barbeia-te com omnisciência
a mosca ajuda-te...
                        intensa mente
livre livro libra libris...
                        lânguida mente
Mentiras mentindo mentiras.

Mentirias a quem? quem? quem?
Quem? Eu? Tu?
Amanhã vou cortar o cabelo.

Um clitóris dois pentelhos
Uma vinhaça um sabão
'bora lá torrar o escaravelho
Encaderná-lo em cartão.

terça-feira, 18 de março de 2014

32.

Are you scared?
Bella?
Belladonna?
'Protejam os bancários
e matem os intrusos!'
'Achaste mesmo que tu
e os teus amigos teriam
hipóteses?'
'Right! So bugs are
really the master peace?'
'The worms with a wire?'

Parece que tens um plano...
Impasse. A indemnização não chega.
The moe the moe must must must...
This anonymous room with no sound
dead dead but not realy dead you see...

post-scriptum: temos muito respeito
pelos serviços postais.

31.

Legal informal pendular
vestem os humanos uma perna de cada
espanha españa spain 3 vezes
regional
irlandês finlandês nordland na tenda das
pme => louva-a-deus
diminuição nas chamadas com
                            custo de contexto =>
aquele caminho leva a algum lado
                  direccionado para os nichos
bichos de mercado, gerir os nichos
                            de pureza original =>
os anti non não nee a partir do
                               gabinete do pm =>
a vã glória de mandar
os anti non não nee a toda a opressão
                        das instituições públicas
mas não púdicas ou mesmo púbicas carnes
                                        de porca...?
Resposta 1: península provoca o congelamento.
Resposta 2: estagnar e indemnizar os nonono
           with a gun dillinger dean gangsters!
Holy shit shit cow chao holy shit shit
uma vaca pode ter três tomates (?!)
down town train and a glass of vodka,
                             let's get high high high!
Que pontes de contacto com a realidade?
Onde e como?
A receita é simples: those hives sff fodasse

30.

Choque petrolífero
<begin>
your boss greasing and working
her ladder
barco bench chuck bartowski
rashan chen wesley snipes
blak bleak back dog yr dog yr god
passenger 57 your god dog sirius b
100.000 usd vs. 3 red vs. Crown
victoria 85 v8 4,6 vs gps
tracking system caracterizamichael car
knight charles vs. kink Ion => ( implies )
boomerang fixed and or xor transfixed
@
xmas balls golden balls
dam ham mitzvah talking to
yr parents with blue jeans
red roger that john
<end>

segunda-feira, 17 de março de 2014

29.

Irab não desiste e re-comenta:
per favÔeur... ân glass dô, HoViagraDo
por Vouestro tabako. não diga mal da
minha mãezinha, faça um donativo pk
minhamannhi é imperadora de um banco
ke dá pão, leite e às vezes ameixas, SIIIIM
frutinha do capitõ ZiggyIggy prá minina 
e pr'o minino... é preciso respeitar o galo,
as pitinhas andarão por aí a comerem chouriço 
com papaaçorda habbaAbbaAllaMadonnna
Eu cá por o que gosto é de erbilhas numa
casserola de madeira (pau braziu a veêm dizer)
mas de facvto sem ser plástico. Agora limiana-
ar-mente Capto não percebo como o nosso
primeiro, akele que usava grabata e fumava
xaruto moksianús, o tal do Nobel das alturas,
há mais de 50 anús, beja lá ke eu gajo de Puerto
Pobre (e aki estou a piscar o olho a esse grande
comunikador) - akele ke foi ministro dakele bellho
senhor que caiu da cadeira sem almofadas para
esconder o móNI... Bryion Gysin said to me
"kick yr habit" I really bE-live que é suf... sufi...
ciência bos salvará... i dixit 1 e último (h)á partes:
o vosso blog dá-me orgasmos solidários... já
repararam que a ciKuta que inflingiram ao S,
pai de P, há 3000000 (é natural k tenha errado 
o numerário de zeros à direita?!) está a provocar
os incendios nos campos subterrâneos dea floresta
negra ou diria mesmo Grega ou mesmo kem sabe
gagajando como se um chouriço entrasse por uma
certa canalização k ensiste em engravatr a mortlha
que contem o soma-Tao-RRio... Vem irmãos irma
~~ as papas e mamas nunca phalaciosos,
Kumprimentos da Kumpanhai AB a Vossas Altezas,
e não decepem mais cabeças pk eu ká por mim bou
mas é facere um download e entrar em roaming...
MMMMMUUUUUUUUUUUUUU.

sexta-feira, 14 de março de 2014

28.

Bate leve levemente filho.
Dá turrinhas na parede
e, quando o galo cantar e já
não crescer mais, concordarás
com a fotomontagem cheia de
corpos a pensar o mesmo que tu:
foder aquece o corpo sozinho de
Onan, Nietzsche, Leverkhun, Pavese...

E tantos - credo abrenunxia - e tantas!
Dizer tudo isto ao sedotô?
Para que aumente a dose,
para que o cérebro se transforme
                                  em couve frita?
Vale mais disfarçar e fazer
                                como o argentino
- uma personagem de Anais Nin.

Engoma as calças e imagina
                seguir uma bela mulher
                avenida abaixo.
Entram num quarto juntinhos...

Acho linda esta consumação:
'se não podes foder imagina.'
mas...
a medicação tira a vontade de ter tusa,
                    tira a potência de querer
                                  ordenar o caos.


[Nota de transcrição]
Este texto encontra-se truncado,
                         quase racionalizado
mas...
relendo reparo que houve um clique,
começo a reparar que o galo canta
                             todas as madrugadas.
Ficar dependente de um subsídio,
de uma indemnização que não chega,
de uma amiga que não tenho...
                                  também ajuda.
Tudo me leva à apologia do onanismo,
e não dormir e acompanhar às seis da manhã
o canto do galo.
O 'ter-me visto' numa fotomontagem na web
baseada numa obra de Spencer Tunick dá-me
a ilusão de ser público,
a ilusão de alguém se divertir a desconstruir-me
a ilusão de valer a pena responder ao absurdo
        com o riso absurdo
        com a deformação abjecta da palavra
        com o estilhaçar ofensivo do Eu.

As cartas-bomba fazem planos
                           para ser remetidas.
Nem tudo será inteligível ou bem educado.
Amen.

27.

Esta noite estou zangado.
Não compreendo a incompreensão
                                              alheia.
Culpo-me por isso.
Tento explicar ao outro que
          vejo no espelho quando fumo:
Talvez compadre...
não gostes de ninguém.
Talvez sejas rancoroso, misantropo,
com uma ideia muito grande
                                de ti próprio,
e claro compadre...
perdes o fio à conversa
                                several times,
acabas por lhes dar razão
e compadre, esses compadres
            tornam-se sádicos porque
tu os deixas compadre...
(mas logo explico ao eu que fuma)
cumpadri,
o meu conhecimento é intuitivo,
dedutivo,
como a nossa dialéctica, vês?,
a arrogância torna-se humildade,
planos se fazem, rupturas se anunciam.
Digo: não quero ninguém.
E depois digo e sofro por ninguém me
                                            querer.

                      (A mão que não fuma
bate na própria orelha)

quinta-feira, 13 de março de 2014

26.

As aventuras laborais de mr.Cool

Apanho o autocarro às nove horas.
Ligo o backoffice às dez e treze minutos.
Ligo o rádio. Tomo café. Vejo o email.
Vou ao multibanco ver se o boss depositou.
Não!
Não está disponível a remuneração em falta.

Passo o tempo a organizar a papelada.
Chega a nossa colega maia.
O pedro saúda-nos do chat.
Descarrego da net o disco 'opel' do Syd [Barrett]
Tiro fotocópias.
Conversamos sobre acções a tomar.
Saio para o Xeirinho à uma da tarde.
O meu almoço: um carioca e um napoleão.
Não me recordo agora
                    das notícias no jornal da tarde.
Sou um leitor compulsivo.
Tenho fumado menos.
Chega o pedro. Fumamos. Vamos ao mb.
O boss não aparece há uma semana.
Amanhã é dia do trabalhador.
Temos de esperar até às 11h59m
    para passar os três meses de prazo legal.
Sim...
uma carta registada com aviso de recepção.
A maia tem uns olhos lindos.
Bate a horário de fecho. Fecha-se o dia.
O último dia de trabalho.

Às onze e cinquenta e oito minutos
              tiro uma consulta de movimentos.
Saldo: zero euros e nove cêntimos.
Existe motivo para justa causa.

Hoje dia um de maio, dia do trabalhador
estou oficialmente
                                       desempregado.

25.

Não recebemos há dois meses.
Este é um diálogo a uma só voz
                              sobre a precariedade.
- Mãe, veja bem...
O senhor A e o boss inadmissível
                                 são uns espertalhões.
Abre-se uma empresa com fundos do estado
e todos os dias se chega com novas ideias
                                 que não saem do papel.

Uma ilusão os move: o lucro de vender e
                descansar à sombra da bananeira.
Ideias que não saem do papel.
Investimentos irrevogáveis:
três(?!) scanners e só um elemento
                             que os sabe utilizar;
três meses sem impressora
                              por falta de tinteiros;
uma central de telefónica e telefones a ganhar pó
                              que ninguém atende
                              porque ninguém liga.
Um emprego keynes. Pastamos a toura.
Não fazemos nada de produtivo.

Agora fazem o jogo mesquinho,
esperam pelo prazo legal para pagar,
evitar a nossa rescisão por justa causa.
Quem dera que o boss pague.
Não recebemos há dois meses e meio.

quarta-feira, 12 de março de 2014

24.

Ana kerida,
sabes que estou perdido mas
que tal um concerto de doom metal?,
digo-te que o passado é história
má literatura mas erros necessários,
devemos cometê-los ainda jovens,
para que não tenhamos saudades
de os não ter cometido quando
as rugas e as cãs chegarem.

Aqui estou
apenas meio adormecido
acordando sempre que te vejo
enrolando cigarros na esplanada.
Sabes?, um clique...
e tu me encantas,
tu me enfeitiças por estes dias,
és tu que me fazes sorrir.

Nem imaginas o quanto sonhei com
                                          Macau...
Agora vou dormir.

23.

Como a polícia funciona:
mesmo sem culpa, é-se 'obrigado' a confessar.
Confissão depois usada como meio de prova.

No entender de quem manda:
'se estivesses inocente não confessavas'
Também pode não se confessar e
performar um chiqueiro como distracção
mas eles sabem-na toda,
(ai os maus!, eles sabem-na toda...)

Chega a ambulância com via verde
para o belo hospital.

Pormenores que irritam:
- a gravata do primeiro durante o euro [2004]
- os obreiros da revolução deixaram
                              tirar o 'r' à revolução.
Pretendem significar: evolução mas...
vejo tudo, a palhaçada toda, a andar para trás,
                          pior que há quarenta anos.
                         

22.

Cronologicamente geração rasca sou,
um bebé da revolução, participei
                          no fecho da academia.
Vi tendas montadas e
flirts de capa e batina e
vias de facto na forma tentada porque
cerveja rima com mijar e dormir.
Durou três dias a revolução dos bebés:
os pais pagaram as propinas,
alguns bebés chegarão a secretários e
primeiros de qualquer coisa,
serão a nova inteligentsia, dirão:
apenas inalei, nunca fui às meninas.
Aos futuros genros dirão:
respeitem as minhas barbas.
Eu cursei sem capa e batina,
pedi (não obriguei) dinheiro
                 às caloiras pra cerveja mas...
aborreci-me com o que vi e
com o que ia fazendo.
Vou-me refugiando agora nas palavras
(nós cegos), não fujo para trás,
dialogo sozinho com o meu eu,
tiro conclusões:
os rebeldes acabarão mortos.
Far-lhe-ão estátuas de hipocrisia,
em vida nã quiseram saber, a anedota:
é proibido mas podes fumar...
e o que acontece: nada, ficas moca.

Já estamos mortos há muito tempo.
Fumamos a paz de um cigarro a dois.
Esvaziamos o eu, tornamo-nos um outro
como se tal e qual o remador da barca
                                             do Vian.

... mas a paranóia, a dissociação
leva-me a terminar, dizendo:
'our son is being watched,
he may become a martyr.'

terça-feira, 11 de março de 2014

21.

Atenção!
- um sol de madeira
        com espelho esférico ao centro.
- uma sereia com peixes
        a subir pelas pernas
             em direcção à vulva.
- uma aguarela em papel
        colada a uma tela com caixilho
        de madeira suspenso em armação
        exterior preta que parece de metal.
São as obras que me ficam na cabeça.

Chego a casa vindo da exposição
e ponho Suicide no gira-discos:
C'mon get up, we're all Frankies,
canta Alan Vega e
a mim parece-me que
ele tenta ressuscitar o morto
                              pela via do som
na história mil vezes repetida.

20.

Anexus 51: ouço gravação minidisk.
Alusão ao fascínio?
Eis o conto das flores com fascínio.
Enfrenta como quiseres.
eu já não me fodo com isso,
preciso de uma boa gargalhada,
tu já não tens interesse para mim,
não és realmente um espírito livre,
desejas conduzir a barca alheia,
criar um mito,
solicito cópia para oferecer à telma e
sermos um casal moderno.

-ai mano minha virgem,
minha santa engráxia - desampara a loja!
Eu sei que é mau para o negócio
e que como publicidade é péssimo mas...
a vida continua e a ofensa,
a liberdade de uns começa onde
                           acaba a dos outros e
nenhuma lágrima mais para as criaturas
                                               da noite.

Goodnight children.

19.

Que quero eu dizer?
Que tenho de novo a dizer?
Cansei-me das palavras
- agora só escrevo repetições.
Agitado escrevo
                a ver se a coisa passa.
Não escrevo por querer,
                            nunca escrevi.
É sempre uma necessidade,
                       um alívio.
Só pinto por prazer,
                    quero ter prazer.

'pensei no futuro, tive ambição,
o campo amoroso um absurdo,
a literatura um absurdo...'
Fodasse! Com bilhete sem destino.
Ganho coragem e salto para o escuro e
abro os olhos num monte de silvas.
'não morri, não morri, não morri...'
E eu a pensar que era covardia e
e e não morri e
e no hospital expludo:
'as mulheres são todas umas putas!'
Ela já mo tinha dito e quando perguntou
                                     eu neguei.
E escondo e sonego e a minha mãe
                                   assina o termo e
em casa toda a gente preocupada e
meu pai pergunta porquê e
eu repergunto: gostas da minha mãe?, e
depois recuso ajuda e deixo-a e
fico com o absurdo nas mãos:
reverter o édipo - mandar foder
em vez de mandar matar e foder:
                         - mandar foder
numa ânsia de destruição e
toda a gente repara e esqueço
todo o mal que me fazem.
Sou lento nas respostas.
Consigo fugir mas relapso:
'serei sempre um estranho,
não é este o meu lugar.'
Tenho medo, muito muito medo.
Quero esquecer
           para só ter futuro.
'é ali que quero chegar,
sai da frente ó merdas!'
eu - humilde servo agora opressor
tal que não deixo amigos quando morro,
(e já morri várias vezes)
a sociedade das lâmpadas para colorir e
três mil pessoas mais o eclipse e
duas gajas ao mesmo tempo
para tentar matar um amor antigo
                           na minha mente
                           na minha vontade:
- a uma chamo-a de lésbica,
     e ela sofrendo diz que gosta de uma pessoa;
- a outra manda-me foder,
     e ela com um sorriso chama-me de parolo.
Três mil pessoas a chamarem-me Paneleiro.
Depois do eclipse dizes:
isto não é imaginação
                               ou foi?
Não pode ser uma construção da tua mente
                               ou foi?
Estás louco ou foi simplesmente fuga?

segunda-feira, 10 de março de 2014

18.

Um mês a estudar.
O senhor A. quer que eu tire 90%.
Eu contento-me com setenta mas...
perderei poder de argumentação.
O acordo verbal prevê aumento salarial.
Talvez o acordo não se cumpra.
O meu compromisso: este emprego
                                 caído do céu.
Dá-me dinheiro para eu poder
                                        pintar.
Tenho de manter o trabalho.

17.

Eis a sua opinião:
'Não espero que alguém o faça.
Não me acho suficientemente interessante.
Vivo um momento de cada vez.
Em breve, chegarão os últimos dias em que respiro
e o último dia em que o meu coração bate 
e o momento em que deixarei de o fazer.
Sempre soube quando estavas perto,
sempre consegui adivinhar quando te ia encontrar.
Desta vez também. Surgiste em pequenos momentos
e um dia, cheguei a casa e havia uma carta tua.
Não me surpreendeu.
Gosto do platonismo que nos une, gosto
da maneira como te adivinho, gosto 
como suspeito os teus pensamentos.
Continuas fácil para mim. Marguerite Duras escreveu:
o melhor amor é aquele que fica suspenso.
Não a percebi. Tem a ver com a maneira como
se olha para outra pessoa, como
se ouve a outra pessoa, como
se tem a outra pessoa abaixo da superfície da pele e 
como essa pessoa nos acompanha nos
movimentos diários apesar de nunca estares presente.
Digo que és fácil porque consigo 
adivinhar a tua presença nas pequenas coisas que faço.
Outro dia, vi um arbusto grande de malmequeres e 
lembrei que havia um arbusto enorme do qual
eu roubava sempre uma flor.
Não havia razão nenhuma para que
teu rosto viesse ao meu pensamento
mas foi em ti que pensei e soube que estavas perto.
Isto só me acontece contigo.
Por isso és fácil, estás comigo sempre.'

16.

Ela revela-se uma desilusão.
Assustei-a com os 'perápes'.
Falei demais, exigi, escrevi a mais.
As respostas não chegaram e
                           aborreci-me.
Zanguei-me, cortei relações.
'Se ela te telefonar atendes?' Duvido.
Livro-me assim do passado.
Tenho a desconhecida como futuro.
If não procuro activamente Then
Tu tens de engatar
End If
Mas...
Não acho piada todos os dias ao jogo.
Cansei de ser sexy.
Não tive coragem de lhe roubar
                                      um beijo.
Ela escreveu: estou à espera do
            cavaleiro de armadura negra.
Acrescentou: não há nenhum príncipe.
Esbanjou: palavras abstractas, generalidades.
Desinfectou: não quero ser atingida
                                pela complexidade.
Sofro: ela não deixa que os homens
                                            a envolvam.
Gravo uma cassete em memória d
                                       o seu porquê.

15.

Há perto de dois meses que não
                                       escrevo.
Prefiro viver em vez de relatar.
Prefiro viver em vez de futuramente
                                    analisar.
Tanta coisa aconteceu.
Podia ter escrito todos os dias.
Por exemplo, a história:
'os gatos de Via Láctea - eterna
                           mãe e irmã,
uma nurse with wound com redondos
                           óculos pretos.

Cookie: malhado yin-yang.
Arisco espuma-se de medo.
É castrado.
Um dia vejo-o debaixo de um gato.
A princípio rio-me: ah afinal
             os gatos são trans-sexuais.
Logo sofro: os gatos são sodomizados
                          pelo patrão.
Logo então se adiciona novo gato filho.
Kiko: malhado e dourado.
Separado no berço, vê as tetas da mãe
e Cookie deixa-o mamar
                        'até que um dia se farte.'
Cookie come a comida toda, está
gordo, velho, sábio e com cataratas.
                                  Será anestesiado.
Kiko tem a mania de atravessar a rua
no sinal vermelho.
                                  Será um herói.
O neto desta família chama-se Goldie.
malhado nos génios e com genes.
Esteve para se chamar Yelou.
Goldie é mais de trazer o amiguinho
                               até à porta de casa.
Uma casotinha com cobertor
                               durante a noite,
até ao menino dos olhos de Via Láctea avó
                                              acordar.

sexta-feira, 7 de março de 2014

14.

Lentamente as palavras vão
                             fazendo sentido.
Negoceia-se uma redução de dose.
Ao fim de um ano... talvez 0mg.
Depois... um período de três anos
                                 em vigilância.
Sei que o doutor faz um boa acção:
uma prenda com veneno antes da 
                                        reforma.
Só eu poderei descobrir o antídoto.
Ser auto-suficiente.

A celebração inclui W. Reich 
                                   na Amazon.
Consegui um cartão de crédito.
Exercito o meu inglês.
Leio: ser bilingue pode impedir 
                                   o alzheimer.
Ao jantar envio sms a dizer:
'não trabalho segunda,
if I might be bold entre linhas
vamos querida para fora uns dias'
Confesso-me ousado, espero que
                                   ela goste.
Lembro: apaixonar-me por email é
                                   rotina minha.
Aguardo resposta.
Ouço Legendary Tiger Man em vinyl.

13.

O dia de ontem? Memorável!
O doutor dá a sua consulta - a última
                            antes da reforma.
Pergunta como me sinto
                                    agora
Com a redução da prescrição?
Eu digo-me bem e peço
                                    ainda menos...
- Informe-me, faça a exegese,
o que está escrito acerca da
                     minha situação clínica?
Ele lê: agitação... mania da perseguição...
          exaltação... verborreia...
Tento explicar os porquês:
'o verão, o varão, o barão, a barona
                           e a baronesa, doutor...
a baronesa recusou a minha declaração,
ela contou, extrapolou,
submeti-me à chacota, zanguei-me
                          com o boss, doutor...'
Falo, principio a abordar o resíduo.
O doutor diz: tem problemas da adaptação.
Insisto: as minhas relações são frustrantes,
                                              conflituosas.
Digo: os media transmitem propaganda.
induzem, tornam o meu pensamento verídico,
                                                manifesto.
Ele analisa; é aí que começa a doença,
a adaptação não é propriamente doença,
                             mais um modo de ser.
Quanto às mulheres, ele diz:
'quem vai à guerra...'

quinta-feira, 6 de março de 2014

12.

Dizem-me para deixar de vez
               os comprimidos do dótor.
Registo o interesse em me curarem.
Oferecem a cura.
Já leram tudo, ouviram tudo.
Opinam sobre o que não viveram.
Não me lembro de ter pedido opinião.

A alma arde.
'amanhã não me apetece fumar' significa:
'não deixes para amanhã
                          o que podes fazer hoje'
Fumo já hoje o último da semana,
Tudo porque: amanhã não me apetece
                                              fumar.
Ainda porque: hoje não me apetece
                                             dormir.
Não sei se antes ou depois do
                               Magalhães Lemos:
Lembrei-me dela, tive vontade de lhe
                                               escrever.
Disse que a vi num livro de arte egípcia.

Ela adiciona-me no chat mas não tem tempo.
'quem sabe um dia talvez', diz.

11.


Pinto uma tela a pensar
                    na filósofa que conheci.
Entitulo: a beleza está a dormir para 
                        manter a tinta limpa.
De tão narcísico tinha antes dislexiado:
uma beldade está a pintar para
                        manter o sono limpo.
Escuto Zeca Afonso. Tenho o diabo na mão.
Vou cair das nuvens para ir ao futebol.
É verdade: não me apetece incorporar 
               a couve do quintal no quadro.
Saio para a galeria.
A inauguração correu ontem.
Leio os comentários no livrinho.
Gostaram do Old woman de 1998.
Coloco o preçário. 
Saio para beber um galão dragão.
Chego a casa. Spino Nirvana unplugged.
Fico a saber: os meus dois bosses 
                           também fumam ganza.
É tarde. Preciso de dormir.
Apetece-me escreve mas...
'estou tão bem debaixo dos lençóis.'
Apago a luz.

10.

O técnico de som chega com a namorada.
Comem churrasco.
Fumamos. Filmam os quadros.
Estamos num bar onde, anos antes,
                                    me expulsaram
- insultava sozinho em alta voz à noite.
Agora novo dono, decoração e novo dj.
Toco na gruta, peço sumo de laranja.
A úlcera não sabe que eu já sei que
                                           tenho úlcera
Polinizo uma mortalha e saímos.

Numa praça perguntam se ainda
                                     tomo comprimidos.
Respondo com os factos, o diagnóstico...
Digo: Não me importo de os tomar.
Às vezes falho mas não descompenso.
A descompensação: percepção aguda.
A realidade vinte e quatro horas
                                        todos os dias.

No final da noite, já de madrugada:
Na vandoma não compro Nick Cave,
                   The good son por 12 euros.
Ando poupado: sem amor ou filhos.
                                Poucos amigos.

quarta-feira, 5 de março de 2014

9.

Fumei o último a ouvir
                       música clássica russa.
Hoje, dia de Carnaval.
Na sexta comprei, no sábado comprei.
No domingo, na segunda voltei a comprar.
Ganza à parte tenho notícias.

Acordei, desliguei o despertador, acendi
                                                   a luz.
Jejuei um charro, saí para o trabalho.
Estou maldisposto mas 'tem de ser.'
Chego ao trabalho, dá-me a moleza.
Suspeito de folga, não chegou ninguém.
Saio para carregar o telemóvel.
Volto. Ninguém.
Telemóveis desligados.
Sinto-me fodido: é folga e eu aki!
Ligo ao boss inadmissível.
Voz monossilábica com sono.
Eu pergunto se, ele pergunta se não, dá folga.
Desligo o computador e            logo agora!
A secretária chega de óculos escuros.
(Boa nas horas, começa a sangrar do nariz.)
Diz que se atrasou, um café na cozinha...
Um cigarro: ela diz que não quer a folga.
Eu digo: ligaram-me, exposição à vista,
o boss inadmissível deu o ok.
Combinamos a estratégia a usar com o senhor A..

Chego a casa. Chegou Black Antlers: mais Coil.
Estou em jejum: endoscopia ao fim da tarde.
Agora apanho o autocarro, o senhor A. liga.
                                                     Não atendo.
Se amanhã perguntar, truncarei a verdade:
'ligara-me, tive que ir ver o espaço,
marcaram já uma data, não pude atender'

Agora: o exame provoca-me vómitos.
O tubo não passa. Não se realiza a biopsia.
O médico diz: deixe de fumar.
                              Tem uma úlcera jeitosa.
Angustiado pergunto: tem cura?
'se deixar de fumar,
                    tomar a medicação,
                                           deixe os doces'

8.

Contabilidade de um mês de trabalho:
'62 euros em vinyl
 15 numa aparelhagem usada com giradiscos
 35 num passe de transporte público
 25 em pólen semanal
 85 por duas molduras
 24 de tabaco e mortalhas'

Balas no céu azul.
Procura-se contrabandista vivo ou morto.
Fumo, ouço Virgin Prunes,
O livro sobre a arte dos celtas na mão.
Chega o T., essa grande estrela pimba...
Pede um chipicao, vamos fumar:
euros de boa ganza, nada de petróleo.

O senhor A. diz-se interessado em
              contratualizar a minha pintura.
Ora eu digo: nada de exclusivos.
Desconfio das intenções do patrão.
Todos os meus patrões se chamarão de A.
Todos dizem que pertenço
                           ao exército vermelho.

7.

Algumas correcções a fazer.
O senhor A. diz: nada de precipitações.
Combinação para amanhã.

Compro ganza e vou almoçar.
Um pouco de televisão. Uns fumos.
Decido ir corrigir para o café.
Aparece S. com a namorada.
- a vida, a experiência pessoal
  a possibilidade de um contrato de três meses
(se as correcções pedidas pelo senhor A.
                            não resultarem em trabalho
  tens o bidãovil à tua espera.)
'bora para o anexo fumar
                             e ver quadros.

Convidam-me para um caneco.
Vinte minutos de táxi depois, nós
                                os três a fumar.
Natal, fim de ano, passou-se.
Assinei contrato.
O ano começa                     bem.

terça-feira, 4 de março de 2014

6.

Noite de consoada. Quatro da manhã.
Não consigo dormir.
As prendas: dicionário de inglês,
uma camisola, umas calças.
Mal amanheça vestirei a nova roupa.
O ritual de rapar frio na vandoma talvez
                                 seja uma hipótese.
A borboleta não mais deu notícias.
Ai: tantos planos para quadros futuros,
Tantas contas de subtrair.
Hoje telefonei a E. desejando bom natal.
As coisas repetem-se sem novidade.
De desilusão em desilusão.
Descontando a preguiça ainda assim criei
                           bases psicogeográficas,
Palimpsestos futuros que pintarei
                                   à minha maneira...

5.

Olá! Recebi email da borboleta.
Diz mais do mesmo:
'Querido práqui, querido pracolá.'
Não telefona, não propõe, não
          responde ao que proponho!
Surge uma entrevista. Preciso mesmo é de
                                     Trabalho!
Se ela não marcar encontro real,
o mais certo é nunca a conhecer.
Nem uma foto, nada. Acção nikles.
Não sei se devo pressionar.
Vou deixar andar.
Não tem perfil de dançarina de salão.
Ela desistiu de mim
                             ou
                                 talvez tenha pudor:
Diz que não gosta de sexo oral.
K mulher não gosta?
A pensar nesta excepção fumo euros de ganza.
Estou quase nas lonas. Tudo correrá bem.
Talvez arranje trabalho.

4.

Para quando a minha dançarina de salão?
Visto uma nova pele.
Hesito em estragar os seus pulmões
                queimar neurónios.
A minha dançarina de salão...
                                               o futuro?
Serei seu escravo,
ela na pintura será minha.

3.

Chateei-me com minha mãe.
A causa: Calças manchadas de
                                           tinta.
Camisola com leite, barba por fazer.

Fui ao centro de desemprego.
Inscrevi-me para um curso.
Vantagens: 15 % do salário mínimo
Mais subsídio de almoço e transporte.
Penas haver 200 candidatos a ouvir.
Com sorte fico de fora.
Apanho o autocarro e saio em Forno Town.
Vou à loja de fotografias.
Desisto de esperar, chego ao cybercafé.

Duas mensagens da borboleta:
Diz-se impaciente, diz que não lhe respondi.
Eu penso mas não digo: Egoísta! Logo no
                        dia em que não fui à net.
Ela diz reclamar tomar café.
(ah ser pintada por mim!)
Ela diz reclamar dignidade. Porquê?
Os seus felatios são apenas electrónicos.
É só conversa da treta.

2.

Nervoso. Sem dormir. Necessidade de
                                             fumar...
Espero chamada da E. até domingo.
Vamo-nos encontrar à tarde.
Não sei se é bonita, sei-a mais velha.
Uma borboleta quer que eu a pinte.
Tudo certo: uma modelo para mim.

E. não pode vir ontem. Não teve folga.
Enviou mensagem. Há tardes assim.
Combinação para quarta-feira.

E., uma brasileira de olho verde, gordita.
                                        Tiro fotos.
Uma idosa vive com ela.
                      Não pode receber visitas.
Paciência! Os preservativos chegam
                                                intactos.

Emails da borboleta cada vez mais picantes.
Bons dias: espero uma boazona.
Já não penso nos olhos verdes de E..
Penso na borboleta, minha modelo e amante
                                               em breve.
Penso numa sessão fotográfica: Yagga Blues.
Futuros quadros: a mente fervilha.

Afinal não houve sessão fotográfica.
A borboleta não ligou. Estou inquieto.
Nervoso. Sem dormir.
Ela fazia anos. Fiquei à espera de
      mensagem suave
      massagem suave no meu corpo insano.

segunda-feira, 3 de março de 2014

1.

Difícil suportar o tédio.
Logo charro fumar.
Quando charro não fumar
- com pedra mas sem mortalhas -
medidas drásticas são necessárias:
a hora, o calor...
sair de casa à procura do petróleo
na senda da bomba de gasolina
no tempo em que abria toda a noite.
O petróleo só tem cheiro.
Não tem já sabor, os comprimidos inibem.
A pedra é petróleo.
A formidável sensação tornou-se acto quase
                                      masoquista, não é?
A formidável sensação não se concretiza,
sai dinheiro do bolso,
queima-se dinheiro em petróleo para suportar
                                                    o tédio.
Porque nada para fazer.
Pego num livro e a meio da página desisto.
Não tenho capacidade de concentração.
Perco o fio condutor.
Os comprimidos não ajudam. o tédio continua.
ah ah há alternativas:
trouxa às costas de domingo a sexta.
Internet sem fios de borla e bom hamburger.
Um fim no caos do consumo:
apenas três ou quatro mil.
Tempo de crise - importante melhorar a auto-estima.
Tudo causa rotina.
Espero que não desatine.

Imagem de capa


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Este blogue está a ser criado por
Claudio Mur.
Dedicar-se-á a transcrever o livro
"Até que a morte nos separe" escrito por Claudio Mur.
Dedicado a Sanea Vallis: a mulher e não a musa.