terça-feira, 22 de abril de 2014

77.

Ok... não sei como escrever isto.
Ando há dias a pensar,
tenho-me lembrado de algumas frases-conclusão
mas tenho adiado,
tenho dito a mim próprio:
escrever um livro em forma de diário... praquê?
Ok, para ordenar as ideias ok mas...
já sei!, encontraste pequenos fragmentos
com sentimentos como:
era bom que o telefone tocasse
mas...
ele hoje até toca, ou melhor tocava
e tu retiraste o volume ao toque de chamada
porque te era insuportável ouvir tocar
cons tan te mente
houve um dia que ela telefonou oito (8!?) vezes
desde a uma às oito da manhã
por isso imagina o não poderes dormir
e então desliguei o som
porque não suportava
houve muita coisa que não suportei
mesmo que algum paraíso alguma magia ter havido
mas durou um mês
terminou quando lhe disse que tinha dela pena
o dinheiro escasseou
a paixão terminou
ficou o peso da responsabilidade
de ter alguma culpa se algo lhe acontecesse
os anos seguintes foram desatinos
empréstimos a fundo perdido
choros ameaças
e pouco sexo
mas nem tudo foi mau e a verdade:
ela salvou-me
sem o saber fez-me ver que
vivi o meu passado como uma ilusão e que
tinha que perder a ilusão, tinha que me 'desiludir'
para viver uma realidade de verdade
mas esta?!
A verdade fica: ela disse que eu não lutei o suficiente
outra verdade: ou vai ou racha, tenho de
dar um passo em frente
ir morar de facto com ela
terminar o bacharelato chama-lhe dispensa sabática
chama-lhe perversão de teres meio cérebro
ocupado por uma mulher invisível
e na verdade esta mulher real
( Vallis o seu nome ) quase me faz acreditar
num casamento sem aliança ou papel
mas fizeste esta relação temporária
porque depois de qualquer grave sempre discussão
sobre qualquer coisa comezinha
(aquilo que os poetas do sistema chamam a vidinha)
eu não suporto os teus olhos furibundos espumando-se
de raiva
então saio de casa para comprar pão
a dizer que era temporário
ou que será necessário utilizar
um plano de cinco anos soviéticos
para te fazer um upgrade à consciência e ao teu
'environment' em inglês
e tu hoje só sabes dizer 'lol'
outras vezes dizias que eu queria liberdade
e eu te dizia que o amor não tem de ser uma prisão
mas tu ficas com ciúmes
deixei de gostar de te levar a sair
quando fizeste um recital inquisitório num espaço público
pareciam as galinhas a dar bicadas no garnisé
enfim...
sem muita paixão
reagindo bruscamente
desligando o ouvido quando ela acusava
encharcando-me de axn
aguentei reflecti pareço um otário
o fim próximo mas mesmo nestes momentos pensava:
eu estou a abandonar todos os meus interesses
para me dedicar à causa de a ajudar
a ter mais estudos, mais cultura, mais trabalho,
mais comida, uma bifana, uma cerveja de vez em quando
e com todos os avisos em contrário
ou vai ou racha
vá lá faz as pazes faz amor
mas como pode haver amor?
até de cobarde me chamou, de velho
e passou-se quando eu disse:
deves pensar que és uma topmodel...
tudo correcto
ela nos momentos de fúria esquece
todo o bem que lhe fiz
e só se lembra do mal
e ataca-me
e pôe-me como culpado de todo o mal
que lhe fizeram na vida durante e antes de mim
até tive culpa de ter tido namoradas antes dela aparecer...
ufa que vai longo
vou-me anulando até ao limite
o superego chega finalmente no último domingo:
andor desampara-me a loja
estou farto de me obrigares a ser mau contigo
porque tu és uma burra que não quer perceber!

Passo a desligar o volume de toque de chamada
dezenas de chamadas por dia
mensagens de chantagem suicida
pensa que tenho outra
porque toda a gente pensa quando não sabe os pormenores
compro-lhe um aspirador
e o que recebo em troca são mais do mesmo
eu quase já sem pena o amor a ir-se
quem me dera poder tomar um café em paz e sossego...
andor!
mas ela finória recaptiva-me quando me diz
precisar de ajuda para um trabalho de pintura na escola
e eu escrevo-lhe um email catita
e nesta noite esqueço tudo
digo a mim mesmo:
vou morar com ela,
que se fodam as dívidas!
Vou a casa dela à noite, peço-lhe desculpa
aceita-me de volta
eu quero vir morar contigo de vez.
E ela diz-me que tem de pensar
e eu digo que compreendo
e sei no fundo que o 'tem de pensar'
significa que falta faísca, falta paixão
mas no dia seguinte ela telefona
e pergunta se eu estou bem
dá uma de madre superiora e pergunta:
ficaste chateado comigo?
Eis como se passa de cabrão a cornudo:
ela que foi abandonada por um marido
que lhe levou as filhas e o sustento
abandona-me e faz o joguinho da
femme fatale do bairro e ainda assim
precisa de dinheiro!?
(para fazer uma pedicure a dedos com micose.)
Como leio numa tradução brasileira de Erving Goffman:
'um psicótico é tolerado pela mulher,
até que esta encontre um namorado.'

mas não te preocupes
não morrerá ninguém
eu não tenho ciúmes
e mando-te foder
ao dedicar-te o livro
e dizer:
o meu coração é teu
'até que a morte nos separe.'

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