quarta-feira, 9 de abril de 2014

66.

Flashback noticioso
Recebo um telefonema quando estou na sede.
Diz meu pai que devo vir já para casa.
Está a polícia à minha espera,
à minha procura para assinar um papel.
Quando contorno e começo a descer a rua de casa,
dois oficiais da psp saem do carro:
um homem e uma mulher polícia.
Ela, sorridente de autoridade, diz meio a brincar:
- estavas a demorar
Não ligo importância. A agente traz um ofício
e diz que me foi decretado qualquer coisa parecida com
tratamento domiciliário
e eu tenho de assinar, diz-me.
Apresenta a folha por trás, marca a cruz
e eu assino. O ofício tem duas páginas
e ela dá-me só a segunda com a conclusão
do despacho.
Como a primeira folha dizia o tribunal,
o nº do processo e outra informação relevante
sou deste modo censurado.
'Um esquizofrénico não tem direitos': toda a gente o pensa.
Não faço caso. Leio a conclusão:
mantém-se o ambulatório compulsivo e
solicita-se nova avaliação daqui a mês e meio.
Penso que só depois de novo relatório médico
o tribunal retirará o 'compulsivo' e colocará 'voluntário'.
- quem paga o custo do advogado?, pergunta Vallis.
- eu é que não. Quem me pôs o processo.

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